1.7.07

Há um curso d'água em todo canto da cidade

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Londrina contabiliza 84 corpos hídricos, entre ribeirões, riachos e rios, na área urbana e aproximadamente 600 no âmbito do município

''Abaixo da sua casa, há uma nascente de rio com água cristalina''. É com essas palavras que o ambientalista e assessor de recursos hídricos da secretaria municipal de Meio Ambiente, João Batista de Souza, o João das Águas, abre a palestra sobre o projeto Acquametropole - que prevê a integração de Londrina e municípios vizinhos a partir de planos estratégicos para as bacias hidrográficas regionais.

Londrina tem contabilizados 84 corpos hídricos (ribeirões, riachos e rios) na área urbana e aproximadamente 600 em todo o município, o que significa que em praticamente todo canto da cidade há um curso d'água por perto. O problema, segundo o ambientalista, é que, por desconhecer essa riqueza natural, a própria população acaba colaborando com a poluição e degradação do rios.

''A gente conta nos dedos as indústrias que poluem em Londrina, mas as residências e casas comerciais são contabilizadas aos milhares. Imagine o impacto causado por toda água que escorre da lavagem de calçadas, carros, quintais, prédios, açougues, restaurantes, piscinas e inúmeros outros locais'', estima. ''Muitas vezes as pessoas não sabem, mas toda sujeira que entra por um bueiro ajuda a contaminar nossos rios urbanos''.

Reverter essa situação é o objetivo do projeto Acquametropole, que abrange Londrina e os municípios da bacia do Baixo Tibagi, especialmente Arapongas, Apucarana, Cambe, Rolândia e Ibiporã. O primeiro passo será dado na Micro Bacia do Córrego Água Fresca - que passa pelo fundo do Vale Verde, no centro de Londrina, no sentido Jardim Quebec/Lago Igapó II.

Com menos de 2 km de extensão, o Água Fresca representa um microcosmo do que acontece com a maior parte de nossos rios. Em linhas gerais, essa micro-bacia é delimitada pelas avenidas Maringá, Tiradentes, Higienópolis e Lago Igapó.

''Escolhemos o Água Fresca como projeto piloto porque, além de ser um importante afluente do Lago Igapó, fica numa região com forte adensamento residencial, tráfego intenso de veículos, comércio diversificado, tem diversas escolas e universidades e poucos problemas estruturais, como os bairros com limitada rede de esgoto ou ocupações irregulares'', conta João das Águas.

''Além disso, é uma área de alto poder aquisitivo e de escolaridade. Acreditamos que é o lugar ideal para focar em ações pouco percebidas pela população. Quando as coisas começarem a melhorar, vai representar um exemplo bastante positivo para as outras bacias da região''.

O assessor técnico da Coordenadoria da Região Metropolitana de Londrina, Luiz Figueira de Mello, explicou que dentro da micro-bacia do Água Fresca, foi escolhida a rua Paranaguá e os 50 maiores imóveis da região (escolas, igrejas, prédios e empresas) para o início do trabalho. Nos próximos dias, será feito um levantamento completo daquele trecho para sugerir melhorias e reformas nos imóveis, que contribuam para a redução do impacto gerado no rio. A exposição dos resultados será feita numa grande reunião com síndicos, moradores e comerciantes.

Os problemas já constatados no Água Fresca formam uma espécie de círculo vicioso: a excessiva impermeabilidade do solo contribui para aumentar o volume de água de chuva que vai para o rio; os bueiros inadequados permitem a passagem do lixo e, com isso, todo tipo de sujeira também é carregada; e quando a água chega no Vale Verde, que é o ponto final das galerias, a força da correnteza é tão grande que alimenta uma imensa erosão iniciada há muitos anos. A baixa permeabilidade do solo também dificulta a recarga dos lençóis d'água subterrâneos.

''Nosso objetivo principal é 'ganhar' o cidadão, mostrar que essa luta trará muitos benefícios para ele. Só vamos mudar a situação com um novo tipo de cultura e comportamento em relação ao meio ambiente'', conta Figueira.

Segundo o assessor da região metropolitana, esse novo modelo de gestão ambiental será levado para as outras cidades da bacia do Baixo Tibagi.

A promotora do Meio Ambiente, Solange Vicentin, que participa do projeto, disse à FOLHA que não será cobrado da população nada além do que já está na legislação - como, por exemplo, a obrigatoriedade de os moradores manterem permeável, com grama, brita ou pontos de infiltração, pelo menos 20% do terreno. Há estimativas de que 1m2 de grama seja suficiente para infiltrar 100 litros de água durante a chuva. Outros itens como coleta seletiva, reaproveitamento do lixo orgânico para compostagem, arborização urbana e boa acessibilidade nas calçadas também estão previstos em lei.

''Vamos nos concentrar naquilo que já está na legislação, a diferença é que será um trabalho integrado na região. Se cada pessoa tomar uma pequena atitude para melhorar seu imóvel, teremos um impacto extremamente positivo em qualidade de vida'', afirmou. De acordo com a promotora, o projeto lançará mão de multas e autuações apenas nos casos mais graves. ''Vamos fiscalizar de perto os maiores geradores de poluição''.

O projeto Acquametropole foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente, e também conta com a participação das Ongs Meio Ambiente Equilibrado (MAE) e Patrulha das Águas.


Fábio CavazottiReportagem Local

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